Profissões que acabarão
Tem muita coisa sendo
inventada ao mesmo tempo. Isso não vai parar e vai acabar com empregos nos
próximos anos
A turma que fabrica FoldiMate
promete lançar a máquina ainda este ano. Custará entre US$ 700 e US$ 850.
Pendura-se nela as roupas para que sequem. Daí FoldiMate traz uma por uma cada
peça para seu interior, passa e dobra. A cozinha robótica da Moley é bem mais
cara: US$ 75 mil, quando for lançada para consumo, no ano que vem. Mas ela vem
completa: os braços que cozinham, forno e fogão, liquidificador,
multiprocessador. É capaz de fazer a maioria das receitas. Robôs aspiradores
são bem mais simples – podem ser comprados, já, no Brasil, na casa de R$ 1 mil.
Estas são tecnologias que, até 2025, serão mais baratas e conhecidas.
É meio atordoante, se paramos
para pensar. Tem muita coisa sendo inventada ao mesmo tempo. Isso não vai parar
na próxima década ou duas. Mas terá um efeito sobre a sociedade que merece
maior reflexão. No Brasil, ainda temos empregados domésticos – embora cada vez
menos. No momento em que a casa começa a se automatizar, a necessidade de ajuda
diminui. Esta é uma profissão que deve se extinguir. Não é a única.
O que a revolução industrial
fez foi colocar máquinas para fazer o que antes era realizado por braços.
Máquinas primeiro mecânicas, depois a vapor e, por fim, movidas a eletricidade,
trouxeram força permitindo que menos pessoas produzissem muito mais. O
resultado foi a grande migração do campo para a cidade e a completa
transformação da natureza do trabalho. Vivemos um momento semelhante e
concentrado. O que a revolução industrial trouxe foi um substituto para a força
humana. O digital substitui trabalhos que exigem raciocínios repetitivos.
O robô cozinheiro não cria um
prato novo. Mas suas câmeras filmam um chef preparando seu risoto e, depois,
reproduzem todos os passos com igual capricho. Da mesma forma, ninguém deseja
um automóvel autômato disputando uma corrida de Fórmula 1. Mas, no dia a dia,
ele conduzirá todos nós em segurança pelas ruas do mundo.
Já funciona, em Seattle, a
loja da Amazon que dispensa um profissional no caixa. Basta ter o app da
empresa instalado no celular – a loja identifica o cliente na entrada, registra
por sensores que produtos pôs em sua cesta e abate do cartão de crédito no
momento em que ele sai. Adeus, filas.
Enquanto isso, os
desenvolvedores de REX, uma plataforma de compra e venda de imóveis, acreditam
que terão brevemente um software capaz de juntar vendedor e comprador melhor do
que qualquer corretor. O programa consegue avaliar a real intenção de compra e
venda de cada um, compreende as necessidades e a capacidade de gasto, e sai
juntando pares.
Estamos debatendo, em
Brasília, reformas da Previdência e da CLT. O buraco é mais embaixo. Bem antes
de as novas gerações se aposentarem, muitas de suas profissões se tornarão
obsoletas. Em alguns casos, são profissões de baixa remuneração: frentista de
posto de gasolina, caixa de supermercado, domésticas, motoboys. Outras são
profissões de classe média. Corretores de imóveis, motoristas de táxi,
contadores.
Não é só. Outras profissões
serão transformadas. Afinal, não será preciso médico, enfermeiro ou
laboratorista para tirar sangue, fazer ultrassom, diagnósticos simples ou
cirurgias complexas. Assim como jornalistas não vão mais escrever matérias
mastigando números – seja de estatísticas esportivas, seja de econômicas.
Da última vez que profissões
se extinguiram e novas apareceram num prazo curto de vinte anos, como está
começando a ocorrer, foi no início do século 20. Desorganizou tanto a estrutura
do trabalho que do caos nasceram os movimentos fascista e comunista. Já está
com cheiro de que pode acontecer de novo.
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